Fragilidade e Finitude

No domingo, perdi o sono por volta das 5h da manhã. Em vez de me forçar a adormecer, levantei-me para ler o livro “Abrace a vida”, mas confesso que, não tenho avançado muito na leitura…

Antes mesmo de começar a folheá-lo, abri o telemóvel para ver as notícias. Na primeira página, surge a imagem de Sara Carreira e com ela, a informação da sua trágica e prematura partida.

Senti tanto, como se fosse alguém que me é próximo. O meu pensamento e oração foram para a família dela.

Deixou tantos sonhos por realizar e uma ferida aberta no coração daqueles que a amavam.

À família Carreira e a tantas outras dores anónimas, deixo o meu abraço de força e coragem.

Cada um de nós já sofreu perdas que marcaram profundamente.

Também tive perdas trágicas na minha vida. Perdi o meu pai aos onze anos e o meu irmão mais velho há quase cinco anos.

Perdi o meu irmão próximo do Natal, no dia 15 de Dezembro. Por isso, a época natalícia tem sempre um sabor agridoce.

Perdi num curto espaço de tempo, outros familiares, de forma prematura e inesperada.

A nossa vida é frágil, somos apenas instantes. Mas, na maioria das vezes, andamos e agimos como se fossemos eternos.

Só os outros é que morrem!

Zangas, ressentimentos, ódios de estimação, intolerância, violência, julgamentos sumários da vida de terceiros (que se julga conhecer), postura de quem tudo sabe (não sabemos nada), e a lista pode continuar…

Esquecemo-nos que a vida é um sopro. Andamos a priorizar tudo aquilo que não levamos connosco.

Andamos por aqui, distraídos com falsas questões que não nos trazem nada de positivo.

Confesso que, nos últimos anos, tenho vivido a minha vida numa “bolha” e como tal protejo-me. Só assim mantenho a sanidade mental, a gratidão e a capacidade de continuar a espantar-me com a vida.

Das poucas vezes que sai da “bolha”, vi que não perdi grande coisa: só dramas e agitação, poucos ou nenhuns silêncios de paz encontrei.

Tenho consciência da minha fragilidade e finitude. Não tenho medo, já a aceitei e vivo em paz.

Tenho pena sim, de desperdiçar a minha passagem por cá, de não fazer nada de significativo, de não a viver plenamente, ou de não ir até ao limite da minha incompetência.

Apesar de todas as perdas que já sofri, conscientemente, não me permito mergulhar na tristeza, no medo ou perder a esperança. Simplesmente não me permito.

Escolho olhar para aqueles que cá estão e que, ainda posso tocar, usufruir e abraçar. Infelizmente, com a pandemia o toque é nulo, para já. É estranho sentir saudades das pessoas com quem estamos.

Se eu optar por olhar só e apenas para o que já foi, a única coisa que farei é infringir sofrimento a mim própria.

Aceito o que não posso mudar, em paz.

Mantenho o meu olhar e esperança no presente, pois é onde a vida acontece.

Mais
artigos

error: